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Colorido Só por fora - Contos Periféricos. (15/08/2015)

 

    Sensível, real, duro e surpreendente. Assim descrevo o livro COLORIDO SÓ POR FORA - CONTOS PERIFÉRICOS, do grande artista Contagense Jessé Duarte. Em pouco mais de 30 páginas, Jessé consegue uma realidade imensa. A beleza das palavras ultrapassa a dimensão do papel e invade a nossa realidade, mesmo que a nossa realidade não seja a das personagens, que vivem em periferias pelo Brasil, e principalmente pelas periferias de Contagem. O primeiro texto do livro – Abóboras – escancara um governo que vive de obras, não tão distante da realidade que vivemos no presente ano, onde obras e obras sustentam um governo porco. Que, já não bastasse isso, tentou enfiar goela abaixo um show para o aniversário da cidade. Queremos comemorar sim! O desenvolvimento de nossa cidade, e não o fracasso da mesma. Seguindo o livro, somos apresentados a Zé Carlos, apelidado pela sociedade como “Dentim”, que vive a esperança de receber cartas em uma caixa de correios sem endereço. E isso nos remete a tantas pessoas que estão morando em ruas e vielas à espera de uma carta que os chamem de volta ao seu lar, de onde saíram para resolver algum assunto e não tiveram como voltar. Engraçado é ver a sensibilidade que o autor nos passa através dos olhos de uma criança, que achava lindo ter uma lagoa dentro de casa e imaginava que a mãe ficava furiosa pelas águas chegarem tarde da noite. Gargalhadas à parte, quando as águas invadem a casa do garoto e o mesmo pergunta onde está a vara de pescar. Já crescido, e descobrindo as dores do mundo, o menino entende “que o rio que entrava em sua casa se chamava Arrudas, e a sua visita se chamava Enchentes”.                                                   Jessé trata a questão dos travestis na personagem Nanita, que necessitam do mundo da prostituição para sobreviver. Expõe a máscara dos empresários que não dão emprego as mesmas, mas usam os seus serviços. Por fim, o que mais me sensibilizou no Colorido só por fora - contos periféricos, foi o texto “Vestido de Luto”, onde uma menina de dezessete anos vive “num barracão perdurado por uma corda, à margem de um córrego mal cheiroso. (...) Estudos interrompidos, mãe desempregada, bolsa família atrasada, expulsa de casa pelo pai alcoólatra e sustentada pelo companheiro que vive do tráfico”. Ana é a figura que representa tantas facetas de um mundo onde a desigualdade existe, faz barulho, pede socorro e não tem a mão do governo para puxar. O livro expõe a falta de lazer para os periféricos, que tem de escolher entre a igreja ou o bar. Aquele manequim vestido de preto, no alto da vila, é a realidade de um povo que vive a violência e acha isso tudo normal, ou na palavra do próprio autor, “...sempre foi assim: Cinza”. Como previsível, a polícia está por trás do uso do vestido no manequim. A manipulação dos fatos por parte de um grupo que deveria nos dar segurança e tem nos tirado a vida, o direito, a voz. E a vida segue assim, “Às sete horas da manhã, todos saem para as ruas simultaneamente. Olham para o ponto mais alto da vila, e o manequim está nu.” 

 


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